Essa semana abri uma caixinha de perguntas no meu Instagram perguntando o que vocês gostariam de ler por aqui, e uma amiga respondeu pedindo dicas de filmes clássicos. Isso me lembrou que, recentemente, minha irmã também havia pedido dicas sobre por onde começar a assistir cinema clássico para ampliar o repertório e aprender mais sobre os grandes títulos da sétima arte.
Mas, antes de começar a assistir aos clássicos, é importante entender o que faz uma obra se tornar clássica. Bom, há alguns anos fiz um post no Lente Cult falando sobre as diferenças entre o cinema clássico e o cinema moderno — veja aqui — e defini um filme clássico da seguinte maneira:
“Um clássico, em sua essência, é aquele filme que cria e define padrões de influência para os posteriores de seu gênero e se torna atemporal por sua criatividade e preciosidade na técnica cinematográfica.”
Dessa forma, podemos dizer que longas como Cantando na Chuva, Janela Indiscreta, Acossado, Rashomon e A Doce Vida são alguns dos verdadeiros clássicos da história do cinema — inclusive, são alguns dos meus favoritos. Contudo, o primeiro contato com cinema clássico pode ser um tanto difícil. Afinal, estamos acostumados a acompanhar lançamentos e tudo de mais atual que as telonas têm a oferecer: cortes rápidos, diálogos acelerados, filmes em cores e efeitos especiais com tecnologia de ponta.
Alguns argumentos recorrentes sobre filmes clássicos são:
"Tenho dificuldades com filmes em preto e branco."
"Eles são lentos demais; parece que nada acontece."
"Mas isso já está ultrapassado; não tem nada de tão interessante e revolucionário nesse filme."
Essas barreiras iniciais são comuns e, muitas vezes, refletem a falta de costume do espectador em explorar obras de períodos anteriores à virada do século.
Por que assistir aos clássicos?
Daí você pode me dizer:
“Mas por que eu tenho que gostar e aprender sobre clássicos? Só porque todo mundo gosta? Ou só para parecer mais culto?”
Em primeiro lugar, ninguém é obrigado a amar todos os clássicos. Essa ideia geralmente vem de listas que elegem Um Corpo que Cai como o melhor filme de todos os tempos ou de rankings com "100 filmes obrigatórios para ver antes de morrer". Essas listas têm seu valor, mas indicam obras essenciais para assistir, não necessariamente para gostar.
Haverá filmes considerados icônicos que você pode não achar nada demais. Isso é normal. Ter sua própria experiência e construir um repertório para explicar por que você não gostou vai fazer diferença na forma como você pensa e argumenta sobre cinema.
(Eu mesmo não acho Aconteceu Naquela Noite tudo isso. Por um tempo, me sentia culpado, achando que tinha visto errado. Hoje percebo que tenho o direito de discordar — e, quem sabe, revisitar a obra futuramente e mudar de opinião... ou não, rs).
Em segundo lugar, conhecer cinema clássico pode ser valioso por diversos motivos. Minha irmã (um beijo, Joyce, te amo) estuda moda e quer se aprofundar para entender mais sobre a Era de Ouro de Hollywood, com foco em figurinos, direção de arte e nomes marcantes como Audrey Hepburn. (Assistimos Cinderela em Paris juntos, e ela amou.)
Além disso, conhecer cinema clássico amplia sua visão de mundo e repertório sociocultural, algo útil para uma redação do Enem ou para um entusiasta da sétima arte. Acompanhar a Era de Ouro de Hollywood me ajudou a entender mais sobre a Grande Depressão e o American Way of Life.
Acho que já deu para ver como estudar cinema clássico é tão útil como divertido, certo? Sem mais delongas, então, deixo algumas dicas abaixo para vencer as barreiras da zona de conforto e começar a apreciar filmes antigos.
Defina um filtro
Quando falamos de cinema clássico, podemos falar desde curta-metragens como Viagem à Lua, de 1902, - um dos primeiros registros da história da sétima arte - até o incomparável 2001: Uma Odisseia no Espaço, de 1968, do mestre Stanley Kubrick. Ou seja, tem bastante conteúdo.
Por isso, sugiro que você comece estabelecendo um filtro. Pode ser por gênero (comédia, thriller, ficção científica, terror), por diretor (Alfred Hitchcock, Agnes Varda, Akira Kurosawa, Michelangelo Antonioni), por movimento cinematográfico (Nouvelle Vague, Expressionismo Alemão, Neorrealismo Italiano) ou até por ordem cronológica. Seja como for, comece por um recorte que seja atraente para você, Afinal, você já está saindo da sua zona de conforto, se mime um pouco rs.
Tenha materiais de apoio
Em um primeiro momento você vai ver os créditos subirem ao final do filme - ou no início, como era de costume antigamente - e vai pensar: “Não entendi absolutamente nada, duas horas da minha vida jogadas no lixo. Será que eu sou burro e não sabia” (sim, escrevo esses pensamentos por experiência própria). Contudo, antes de esperar que os clássicos falem com você, talvez você tenha que falar com eles primeiro.
Como tudo na existência humana, para se estabelecer uma comunicação, é necessário uma linguagem e a linguagem cinematográfica às vezes é complexa e parece distante. Desse modo, materiais de apoio são essenciais nesse processo. Terminou de ver o filme? Leia uma review no Letterboxd. Não entendeu bem onde e quando o filme se passa? Pesquise informações em uma fonte confiável na internet.
Outras ferramentas que pode ajudar são livros sobre a história do cinema, caso você esteja empenhado em se tornar um cinéfilo raiz. Indico O Livro do Cinema, um livro - obviamente - que destaca as principais obras da sétima arte com uma linguagem acessível e dinâmica com curiosidades, frases marcantes e críticas dos clássicos. Também indico o Clube do Crítico, curso do Cinema com Crítica ministrado pelo Márcio Sallem (meu eterno professor e querido amigo), que trabalha cinema clássico em algumas edições e que entrosa cinéfilos calouros e veteranos.
Onde assistir os clássicos?
Uma pesquisa realizada pela Amperes Analysis revelou que filmes anteriores à década de 1970 compõem cerca de apenas 10% do catálogo de streamings como Netflix, Amazon e Max. Portanto, o foco dos principais canais em seu catálogo está direcionado para o lançamento de material original e estreias recentes. Isso não é um problema em si, apesar do desequilíbrio extremo entre os tipos de conteúdo, entretanto, se você está procurando por claśsicos, essas podem não ser as melhores opções.
Uma plataforma cult que vem se popularizado recentemente é a MUBI, que traz visibilidade para o cinema alternativo e distribui filmes fora do radar do circuito comercial. Lá eles tem alguns filmes clássicos que não se encontram em lugar nenhum, com cinelists feitas por um curadoria especilizada para cinéfilos. Você também encontra clássicos em streamings como o Belas Artes À La Carte e o Globoplay, que tem um ótimo acervo de clássicos nacionais, além, é claro, de alguns títulos disponibilizados gratuitamente no YouTube.
Por fim se você ainda está na dúvida do que assistir, deixo o link da parte 1 e da parte 2 de posts que fiz no meu Instagram com filmes que mudaram minha visão sobre cinema e que são excelentes opções para quem quer explorar o cinema clássico.
Foi ótimo escrever essa Jean's Letter e dar uma pausa nos lançamentos, afinal, deu para pereber que eu sou um fã de clássicos hehe.
E você qual filme mudou sua visão sobre cinema? Qual seu desafio com filmes antigos? Quero te ouvir! Comenta aí ou me manda uma dm lá no @lentecult.
Até a próxima Jean’s Letter!
Obrigada por essa newsletter incrível, meu amor! Te admiro e amo demais você! ❤️🌟